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domingo, 22 de abril de 2007

Tomara que a Ségolène Royal vença no segundo turno!

"Mais justa, a França será mais forte.
Ségolène Royal Presidente."



Quem é?

Marie Ségolène Royal (Dacar, Senegal, 22 de setembro de 1953) é uma política francesa e concorrente às eleições presidenciais de 2007 daquele país. Royal é membro do Partido Socialista

Graduada na ENA e no Institut d'Etudes Politiques de Paris, ela foi juíza (conseiller) de uma corte administrativa antes de se eleger para cargos políticos [2]. Deputada pelo departamento de Deux-Sèvres, Royal foi ministra nos governos Pierre Bérégovoy de 1992 a 1993 e do Governo Lionel Jospin de 1997 a 2002. Em 28 de março de 2004, ela foi eleita (com mais de 55% dos votos) à presidência da região de Poitou-Charentes, notavelmente derrotando a candidata do Primeiro-ministro Jean-Pierre Raffarin, Elizabeth Morin.

Ségolène e o líder socialista François Hollande, com quem tem quatro filhos, são parceiros desde a década de 1970. Os dois mantêm uma relação de acordo com o PACS ("pacto civil de solidaridade") que provém uma união civil entre dois adultos. No passado, ela criou campanhas contra a exposição de crianças de programas de TV violentos, incluindo desenhos animados como Le Ras-le-bol des bébés zappeurs.

Em 22 de setembro de 2005, o jornal francês Paris Match publicou uma entrevista em que ela declarava a sua intenção de concorrer à presidência em 2007. Após o governo francês ter pedido a batalha contra os distúrbios devido ao CPE (contrato do primeiro emprego), ela foi vista como líder oposicionista de Nicolas Sarkozy.
Em 7 de abril de 2006, Royal lançou uma campanha eleitoral pela Internet no site Désirs d'avenir (desejos do futuro), publicando o primeiro de dez capítulos de seu manifesto político.

Em 16 de Novembro de 2006, foi eleita pelo seu partido como candidata às eleições presidenciais de 2007.

Royal fala de assuntos que os políticos de esquerda franceses preferem não comentar como a delinqüencia juvenil que assola a França, que causa certo desconforto em seu próprio partido nos ataques a Sarkozy. Ela também não hesitou em criticar a lei que institui o período de trabalho de 35 horas semanais que Jospin aprovou como lei quando era primeiro-ministro.
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Entrevista a Ségolène Royal
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Entrevista à candidata do Partido socialista francês, realizada por Cécile Cornudet, Françoise Fressoz, Jean-Francis Pécresse e Dominique Seux, em Paris.
Tradução: Ana Pina
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#As sondagens indicam uma subida da intenção de voto em François Bayrou, facto que suscitou a formação de duas correntes de pensamento no seio do Partido Socialista Francês. Há aqueles que defendem que deve alinhar mais à esquerda e há também aqueles que preferem o caminho da social-democracia. Qual é a sua opinião?

Sou eu quem define o caminho a seguir. Sou como sou e vejo a realidade francesa tal como ela é. Proponho, por isso, soluções efectivas dizendo o que deve ser dito, sem ficar refém de um qualquer dogma. Não é fácil levar a cabo esta revolução: os franceses têm que aceitar que uma mulher pode exercer o poder.

#Se for eleita tenciona mudar a França em 100 dias [como prometeu, um dia, o primeiro-ministro Dominique de Villepin] ou em cinco anos [período do mandato]?

A crise profunda que hoje vivemos obriga a uma revolução. No Outono está prevista a realização de um referendo sobre as instituições nacionais para promover a representação proporcional, reforçar os poderes do Parlamento, impulsionar a democracia participativa através de júris constituídos por cidadãos, bem como para desenvolver a acção política, que diariamente nos dá provas e que tende a libertar-se da influência dos grupos de pressão. Tomarei ainda medidas que desbloqueiem imediatamente a economia.

#Tenciona mudar o equilíbrio que hoje existe entre o poder central e o poder local?

Um governo demasiado hierarquizado não é solução. Mais depressa provocaria o caos do que a ordem. Temos, contudo, de separar as responsabilidades entre as autoridades locais de uma forma clara e inequívoca. Só assim poderemos evitar a duplicação de funções. Para isso teremos de alterar o direito de veto do Senado nas questões institucionais.

#Qual será a sua primeira medida económica?

Emprego para os jovens. A dificuldade dos jovens, das pessoas qualificadas, em arranjar emprego muito tem contribuído para a degradação da sociedade francesa. Pessoalmente, tenciono seguir um modelo semelhante ao adoptado por Tony Blair no seu primeiro mandato: pediu às empresas que se empenhassem mais nesta matéria e rapidamente obteve resultados.

#“Emprego para os jovens” – Lembra o mote da campanha do antigo primeiro-ministro Lionel Jospin em 1997.

No caso que refere não se tratava de empregos no sector privado, salvo os referentes a instituições de caridade. Estes empregos visam não só servir de “rampa de lançamento” para os jovens como estimular o emprego no sector privado. A minha maior motivação reside no que tem vindo a acontecer ao nível regional: é realista fixar uma meta de 500 mil empregos para os próximos cinco anos, desde que se abandone a economia da desconfiança. Mais: as universidades terão de se empenhar mais na colocação dos seus alunos, obtendo em troca uma maior autonomia orçamental.

#Depois das conversações que manteve com os parceiros sociais sentiu que estão preparados para abandonar aquilo a que chama “economia da desconfiança”?

Senti que os sindicatos estão mais determinados do que o Medef (organização patronal francesa), que estão prontos para entrar numa nova era de relações industriais. O Medef, pelo contrário, está nervoso e tem ficado aquém das expectativas das pequenas e médias empresas. O presidente do Centro para os Jovens Directores mostra-se particularmente entusiasmado, por exemplo. Enquanto a lógica for “todos saem a ganhar”, os sindicatos estarão dispostos a negociar compromissos. E isso é prometedor.

#A representação sindical deve ser reformada. Como?

Através de eleições. Os sindicatos discordam entre si sobre o melhor caminho a seguir, por isso, o debate deve prosseguir. Aconteça o que acontecer, quero ser eu a criar as fundações para uma sindicalização maciça. Nenhum empregado deve recear sindicalizar-se.

#Não rejeitou recentemente a ideia de sindicalização compulsiva?

Era uma boa ideia, embora demasiado revolucionária. Por ora, pelo menos.

#Quais serão os temas fortes das negociações entre os parceiros sociais e que será decidido ao nível político?

A prioridade vai para a negociação. Negociar soluções é uma opção mais inteligente e duradoura. O debate sobre receitas e crescimento será, pois, o primeiro passo. O Estado vai garantir a qualidade das conversações e definir a meta a alcançar, isto é, o aumento do poder de compra. Acredito plenamente no diálogo social. Caberá ao Parlamento zelar pela correcta implementação dos acordos alcançados, bem como financiá-los. Para mim é prioritário reconciliar o país com as empresas. Como poderemos fazê-lo numa altura em que as empresas que integram o CAC 40 [principal índice accionista francês] anunciam os maiores lucros de sempre e em que os salários dos seus directores são escandalosos, quando as empresas subcontratadas atravessam tremendas dificuldades?

#O que a choca mais? Os lucros - 100 mil milhões de euros - das grandes empresas?

O que mais me choca é ver que há muito dinheiro de um lado e muitos danos sociais do outro. A lógica da “financialização” é economicamente destrutiva. A distribuição dos os lucros deve ser mais transparente para que possam ser reinvestidos, ajudando assim à manutenção de postos de trabalho. Até os economistas mais liberais defendem esta tese.

#Quem deve decidir sobre a distribuição dos lucros? Os accionistas, como acontece actualmente, ou o Estado?

O Estado também deve estar envolvido.

#Defende o aumento dos impostos sobre o capital?

Não se devem aumentar os impostos por uma questão de convicção, mas porque beneficiam as empresas de trabalho intensivo.

#No geral, trabalha-se o suficiente em França?

O país deve trabalhar mais, obviamente, dando trabalho aos que não o têm como os jovens e os mais idosos. As empresas que defendem um horário mais alargado já estão a implementar esse modelo.

#Que pensa do aumento da carga horária para mais de 35 horas semanais, especialmente no caso das pequenas empresas?

Os parceiros sociais vão negociar.

#Refere frequentemente a ajuda modular ou condicionada às empresas. Pode ser mais concreta?

Gostaria que a ajuda concedida às empresas reflectisse as suas políticas de emprego e a aposta na inovação, assim como a sua exposição internacional à concorrência.

#Teceu duras críticas à banca…

Porque não assume os riscos inerentes ao financiamento de empresas. Prefere deixar esse papel para as autoridades locais. Isso não é correcto, na medida em que os bancos devem ajudar as pequenas e médias empresas a desenvolver-se.

#Como deve ser ajustado o imposto sobre as sociedades?

Defendo a sua redução no caso das empresas exportadoras. Para ganhar a batalha económica é preciso conquistar mercados estrangeiros.

#Pode ser mais precisa quanto ao valor da redução?

Não vou avançar pormenores nesta fase. É uma decisão que compete ao governo e ao Parlamento tomarem.

#Uma empresa que não exporte sofreria, simultaneamente, com a redução fiscal e com o aumento do salário mínimo para 1.500 euros mensais. Não acha que pode ser um duro golpe?

Algumas empresas precisam de ajuda, outras não. Quero ajudar as que realmente precisam e pôr fim aos financiamentos sem critérios. A lógica prevalecente deve ser a de “dar e tirar”.

#A Alemanha recuperou a sua competitividade reduzindo os custos laborais. Não seria esta a melhor estratégia para França, ao invés do aumento do salário mínimo e dos salários mais baixos?

O poder de compra de quem aufere o salário mínimo [em França] é um dos mais baixos da Europa. Podemos ser competitivos com salários mais justos.

#Segundo o Eurostat o salário mínimo francês, em paridade de poder de compra, é um dos mais elevados da Europa.

Essa comparação tem por base os índices de preços, que não reflectem o verdadeiro poder de compra das pessoas que auferem dos salários mais baixos. Não é com empregos precários, em part-time e mal pagos que vamos ter trabalhadores motivados e eficientes.

#A resposta reside no IVA social?

Sabemos quais são as desvantagens do IVA social e sabemos que não é justo. Falando em sentido lato, é preciso harmonizar as regras. Gostaria que o enquadramento fiscal e social dos próximos anos estivesse bem definido antes do final do ano. Os actores económicos precisam de visibilidade.

#Tenciona manter as deduções salariais?

Sim. Não faço parte daqueles que dizem que é possível reduzir as contribuições sociais e a dívida pública. É impossível. Temos de ser realistas para não descredibilizar a política.

#Está de acordo com François Bayrou nesta matéria?

François Bayrou não tem programa – só diz gabarolices!

#Tenciona rever o imposto sobre os rendimentos?

A nova tabela acentuou escandalosamente as desigualdades, pelo que deve ser reformulada em conformidade com a lei orçamental de 2008. Não é justo penalizar os escalões mais altos.

#Pode ser mais específica sobre esta matéria? É legítimo que o povo francês queira saber qual vai ser a sua política fiscal antes das eleições.

Essa matéria está interligada com outras questões. É fundamental que os franceses aceitem a tributação definida, mas para isso terão de compreender o que é feito com o seu dinheiro. Defendo, pois, um orçamento participativo para que os franceses percebam qual o uso dado às receitas fiscais. É o que faço na região pela qual fui eleita. Claro que é mais difícil de implementar a nível nacional, mas devemos ponderar essa possibilidade.

#Não adoptou a ideia avançada pelo ex-ministro das Finanças, o socialista Dominique Srauss-Khan, de taxar os franceses que residem no estrangeiro?

Não acho necessário taxar todos os franceses que residem no estrangeiro para compensar os que optaram por domiciliar-se em países com menor carga fiscal. Posso citar um paradoxo a este propósito: a Direita aprovou um tecto fiscal para o total de impostos que se podem aplicar sobre os rendimentos individuais, mas isso não impediu que alguns dos seus amigos saíssem do país.

#Tenciona alterar o imposto sobre a riqueza [‘Impôt de Solidarité sur la Fortune’]?

Não.

#Iniciou o seu discurso em Villepinte denunciando o peso da dívida pública antes de anunciar as 100 propostas do seu programa de governo, muitas delas onerosas. Onde está a poupança?

Há margem de manobra na reforma do Estado. Precisamos de um Estado que funcione bem e que seja capaz de reduzir custos, ainda que de forma simbólica. Defendo a redução do número de ministros e, acima de tudo, a descentralização. Quando me encontrei com os primeiros-ministros espanhol e italiano, Rodríguez Zapatero e Romano Prodi, disseram-me que a redução dos custos do Estado só foi possível através da descentralização.

#Em França, a descentralização foi sempre acompanhada pela duplicação de funções e por uma maior despesa.

É precisamente isso que queremos evitar no futuro.

#O governo central também será obrigado a reduzir o número de funcionários públicos?

Sim. O governo central recusou-se, até agora, a perder poderes, mas é fundamental reduzir o número de funcionários públicos paralelamente à transferência de competências.

#Tendo em conta o total de funcionários do governo central e local, justifica-se essa redução?

É preciso maior mobilidade. Nicolas Sarkozy [candidato do centro-direita] afirma que não vai substituir um funcionário em cada dois. Isso é inaceitável, nós vamos fazê-lo para evitar a ruptura e a destruição dos serviços públicos. Uma afirmação destas transmite uma forte dose de desconfiança face aos funcionários públicos. É o mesmo que dizer que um em cada dois não serve para nada. A Direita não será capaz de levar por diante a reforma do Estado porque não acarinha a função pública. Eu serei capaz porque acredito na função pública.

#O Estado deve reforçar a sua participação na energética Electricité de France (EDF) para os 100%?

O Estado deve controlar a EDF, mas não me oponho à nacionalização. A criação de um sector energético europeu, o desenvolvimento das energias renováveis e o futuro da energia nuclear são aspectos vitais para o Estado e para o controlo que pretende exercer sobre o sector energético.

#É extremamente crítica em relação a Nicolas Sarkozy e mais moderada relativamente a François Bayrou.

Isso não é verdade. O que me assusta é a sua máxima: “não há gastos”. Acho-a muito perigosa. Se uma nação não investir nos pilares – universidades, pesquisa, inovação -, nunca conseguirá preparar-se para o futuro nem fazer face à globalização.
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