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quinta-feira, 29 de dezembro de 2005

"Ana Carolina prestou um desserviço" - Edson Cordeiro comenta com desgosto a forma como a cantora saiu do armário

A edição da revista Veja do dia 21 trouxe na capa a cantora Ana Carolina ao lado de uma manchete um tanto polêmica: "Sou bi, e daí?". Na entrevista, a artista que já vendeu 1,5 milhão de discos e é ídolo das lésbicas conta que é bissexual e diz que procura se manter afastada da militância GLBT. "Sou contra essa postura de levantar bandeiras para defender o homossexualismo, pois fica parecendo que ser gay é uma doença", falou à revista. A declaração da cantora dividiu opiniões e gerou respostas imediatas de ativistas como Welton Trindade, presidente do grupo Estruturação, que a classificou como "bastante despolitizada". Colega de profissão de Ana Carolina, Edson Cordeiro também reagiu mal à entrevista dela.

Por telefone, falou com exclusividade à Tribuna do Brasil durante ensaio do show que vai apresentar na noite de reveillon na inauguração do primeiro Resort GLS do País, na Bahia. O cantor, que sempre falou abertamente de sua orientação sexual, acha que as falas de Ana à Veja são "um absurdo, uma regressão e um desserviço".

ENTREVISTA
Edson Cordeiro

De que forma sua orientação sexual influencia no seu trabalho?
Tudo o que eu sempre fiz foi gay porque veio de mim, que sou gay. Alguns artistas têm muito medo dessa expressão "levantar bandeira" com medo de se comprometer. Eu não tenho esse medo. Sou militante antes mesmo de ser artista. No início do mês, cantei no Dia Internacional de combate à Aids em Viena.
O presidente da república da Áustria estava na platéia. Fui como voluntário e fiz isso porque me sinto à vontade.

O que você achou da entrevista de Ana Carolina à Veja?
Fiquei revoltado. Ninguém é obrigado a levantar bandeira, mas acho uma pouca vergonha o que ela falou. Não por mim, mas por várias associações, ONGs e pessoas sérias, como Luiz Mott [antropólogo] e João Silvério Trevisan [escritor] que estão aí há muito tempo lutando para mudar essa realidade.

Que realidade é essa que ela aparenta desconhecer?
Do jeito que ela fala, parece que a gente vive na Suíça ou na Alemanha. A verdade é que a gente mora em um país que mata homossexuais. São pessoas que não vendem milhões de cópias, não são cultuadas pela mídia, são pobres e consideradas doentes, sim! Pessoas que são banidas da sociedade, expulsas de casa e que sofrem com o preconceito.

A opinião dela foi um tapa na cara da militância?
A militância não tem que trabalhar para Ana Carolina, nem pra mim, nem pra alguém que vive cercado de glamour e aceitações. A gente tem que lutar por quem não tem essa visibilidade e proteção da fama.

A revista a chamou de "ícone de uma geração que não liga para rótulos sexuais". Você concorda?
Ela tem o direito de não levantar bandeira e de se dizer ser "bi", talvez porque ser "bi" pareça menos homossexual. No Brasil as pessoas não se importam de ver mulheres se beijando, isso alimenta uma fantasia heterossexual. Agora, quando são dois homens, as pessoas ficam incomodadas e vemos que pouca coisa mudou. Acredito que realmente possa surgir uma geração mais esclarecida, mas o Brasil tem muito que crescer nisso ainda e integrar os avanços mundiais.

Esse foi um ano de algumas conquistas e aumento da visibilidade GLBT no Brasil. Você acredita que essa é uma tendência?
Não adianta só fazer a maior parada do mundo se no dia seguinte fica tudo igual. Não podemos ser só "pão e festa". Já provamos que somos bons em fazer festa. Agora, temos é que cobrar quando a gente tira a máscara é que temos que cobrar.

Fonte: Tribuna do Brasil, 24/12/2005
http://www.tribunadobrasil.com.br/?ntc=9564&ned=1537


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